Psicóloga Clínica | Psicanalista

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Ambivalência: por que temos sentimentos opostos?

É possível gostar e não gostar de algo ao mesmo tempo? Sim.

Somos seres naturalmente paradoxais. Assim como amor e ódio são duas faces da mesma moeda.

Na teoria psicanalítica, isso se explica através do conceito de ambivalência, característico em estruturas psíquicas neuróticas (a maioria de nós).

Conceito de ambivalência

Refere-se à presença simultânea e conflitante de sentimentos, atitudes ou tendências opostas em relação a uma mesma pessoa, objeto ou ideia.

Em outras palavras, é a capacidade de amar e odiar, desejar e repelir, ou ter pensamentos contraditórios sobre algo ou alguém ao mesmo tempo.

Freud considerou a ambivalência um tema central na psicanálise, aplicando-o a aspectos gerais da vida psíquica. 

Essa a ambivalência está ligada às pulsões de vida (Eros – busca a união e a conservação) e às pulsões de morte (Tanatos – tende à desintegação e ao retorno ao inorgânico).

Manifestações da Ambivalência

A ambivalência é uma característica inerente (normal) à experiência humana e pode se manifestar de diversas formas:

  • Sentimentos conflitantes: É o exemplo mais comum, onde uma pessoa pode sentir amor e ódio por um parceiro, admiração e inveja por um colega, ou medo e excitação diante de uma situação nova.
  • Ideias contraditórias: A ambivalência não se restringe apenas aos afetos, podendo também se manifestar em pensamentos ou crenças opostas. Freud, por exemplo, analisou a ambivalência no conceito de “tabu”, que é uma proibição daquilo que é intensamente desejado.
  • Comportamentos ambíguos: A tensão interna gerada pela ambivalência pode levar a ações hesitantes ou contraditórias, onde o indivíduo parece avançar e recuar ao mesmo tempo.

Importância na Psicanálise

A ambivalência é crucial para a compreensão de diversos fenômenos psíquicos:

  • Neuroses: Freud argumentava que, se não houvesse afetos opostos (amor e ódio), o recalque e as neuroses não existiriam. A dificuldade em integrar e lidar com esses sentimentos conflitantes pode levar a conflitos internos e sofrimento psíquico.
  • Relações objetais: A psicanalista Melanie Klein destacou a importância da ambivalência nos primeiros anos de vida, quando o bebê experimenta sentimentos intensos de amor e ódio em relação à mãe (vista ora como “boa” por satisfazer suas necessidades, ora como “má” por frustrá-lo). A capacidade de tolerar e integrar essas imagens da mãe é fundamental para o desenvolvimento psíquico saudável.
  • Saúde mental: Autores como Donald Winnicott entendem a capacidade de tolerar e integrar a ambivalência como uma conquista no desenvolvimento emocional. A saúde mental estaria ligada à capacidade de aceitar que uma mesma pessoa ou objeto pode despertar sentimentos positivos e negativos, sem a necessidade de fragmentar ou negar um lado da experiência.

Em suma, a ambivalência é um conceito que nos ajuda a entender a complexidade da psique humana, revelando como sentimentos e tendências opostas podem coexistir e influenciar nossas emoções, pensamentos e comportamentos. É um desafio inerente à vida e ao desenvolvimento psíquico, cuja elaboração é fundamental para a saúde emocional.

Acolha suas contradições!

Quer entender melhor seus sentimentos contraditórios?

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